Festival Elemento em Movimento
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A comemoração da Independência do Brasil em 7 de setembro foi marcada na cidade satélite de Ceilândia (periferia de Brasília), Distrito Federal pelo maior festival de hip hop do DF. Elemento em Movimento representou um pouco da independência da periferia na realização de um lazer de qualidade em relação ao centro da cidade. E tudo gratuitamente. Veja abaixo o meu ponto de vista sobre o evento.
Produção
Todo o festival foi produzido e conduzido pelos jovens participantes das oficinas do projeto Jovem de Expressão. Oficinas de fotografia, cenografia, produção e dança são algumas das ações desenvolvidas pelo projeto. A todo momento eram vistos garotas e garotos fazendo a cobertura fotografica do evento, tirando alguma dúvida de quem estava ali para assistir. Essa é uma puta experiência para se colocar no currículo.
Elementos
Os quatro elementos do Hip Hop estiveram muito bem representados no festival. O Rap, o DJ, Break Dance e o Graffiti. Máximo respeito aos músicos Rael, Flora Matos, Rashid, Strikys, Fillipe Costa, Rapadura, Viela 17 e tantos outros que se apresentaram no palco. Os DJs encheram a Tenda em Movimento com muito vinil sendo riscado no campeonato DJ Scratch - foram tantos que não daria para mecioná-los, mas todos bem capacitados e com estilo próprio - ou ainda com bass pesado nas apresentações do DJ Cia, uma jam session com as DJs Donna e Janna ou ainda com os DJs Batma e Jr. Killa, que ficaram responsáveis respectivamente pelas Batalhas de MCs e Batalhas e B. Boys. O Break se fez presente com apresentação do ShiiiU Performance na tenda e Jovem de Expressão no intervalo entre alguns shows. Nas cores do Graffiti uma kombi ficou mais bonita. Uma pena que não pude participar de todos ou espaços ou intervenções.
Todos curtiram o festival de forma particular. Uns foram pelos shows musicais de rap, outros para reunir os amigos, colocar a conversa em dia e curtir um som na tenda com DJs da cidade que duelaram no campeonato DJ Scratch. Famílias inteiras também se fizeram presentes, pois o espaço era democrático e o hip hop é inclusivo, sem espaço VIP com todos juntos e misturados.
Devido essa característica de inclusão, segundo a organização do evento, não houve nenhuma ocorrência policial no local onde foi realizado. Isso apenas deixa claro que o foco da violência em outros evento não são os moradores da periferia, como muitos tendem a esbravejar a cada briga na boate ou show em outros lugares do centro da cidade.
Ostentar estilo
Estilo, puro e simples. Foi um verdadeiro desfile de estilo. Os caras ostentando suas melhores roupas e as minas com roupas e blacks bem armados. Figurinos de gangsta rapper com boots caramelos, bermudões ou calças folgadas e uma bombeta/cap/boné para fechar a fashionista que acompanha tendências para negros com um look composto por calças slim, camisetas estampadas, suspensórios e óculos. As minas com diversas cores de cabelo, do natural black power a tranças loiras ou completamente brancas além de turbantes com variadas estampas.
Os Shows
No sábado, houve show do Strikys, Gutierrez e destaco a participação do rapper Fillipe Costa. O cara perdeu uma perna em um acidente de carro aos 10 anos de idade, mas não abandonou o hip hop e se fortaleceu no movimento.
Rashid abriu com um dos shows mais esperados na noite. Se fez seu som, passou várias mensagens para reflexão dos presentes. Com banda completa interagiu com a platéia e recebeu alguns presentes dos fãs e ainda recebeu uma proposta para trocar o boné que usava por um que foi jogado no palco. Destaco o momento que cantou a música ‘Patrão’ que todos acompanharam e a música ‘E Se’, que tem uma mensagem boa.
Quando a Flora Matos subiu ao palco logo a pós o Rashid, já mostrou que não estava para brincadeira e o peso do som mostrou que ali estava para quebrar paradigmas como sendo a única mulher a subir no palco para fazer um show completo e não apenas cantar acompanhando outro rapper. Com uma presença de palco fora do comum, suingado e malícia quebrou tudo. Estou me perguntando até hoje que bass desgraçado foi aquele da música ‘Preto no Branco’? E ainda teve o momento balada para os casais com a música ‘Como Faz’. Para a Flora Matos, apenas Máximo Respeito.
Já o domingo foi o dia de experimentação com o rap repente do Rapadura, um representando forte do rap nordestino. E ele se apresentou no lugar certo, já que Ceilândia é a capital do nordeste no Distrito Federal. E ainda uma nova abordagem do vocalista Japão do Viela 17, grupo de rap já conhecido e adorado pela cidade, que trouxe ao palco uma grande banca para fazer sua apresentação como Ceilândia G Funk. Aparentemente essa nova roupagem não agradou o público que esperava músicas cantadas da forma já conhecida.
Rael que vem reinventando a forma como fazer sua música e divulgá-la. Ele já espalhou um player em paredes por São Paulo para que todos pudessem ouvir suas músicas. No seu show ele cantou praticamente todas as suas músicas mais conhecidas, deixando para o final as canções balada como ‘Ela Me Faz’ e ‘Envolvidão’ para os casais ressaltarem seus momentos de romantismo. Um dos pontos máximos foi quando cantou ‘Vida Loka’ pt. 1 do Racionais Mc’s. Como um dos maiores expoentes do gênero no Brasil, não foi diferente, todos cantaram e foram ao delírio. Senti falta de uma banda com ele, mas o DJ Soares não fez feio e mandou bem demais.
Queremos ver os jovens vivos
A Anistia Internacional esteve presente com um stand e voluntários que buscavam assinaturas para a petição que visa uma melhor apuração a casos de execuções extrajudiciais por parte de policiais. Sendo o Brasil é país onde mais se mata no mundo, maior inclusive que alguns país em estado de guerra. Você pode conhecer mais sobre a petição e assiná-la diretamente no site a Anistia.
Abaixo uma seleção com fotos que fiz dos principais shows.
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